26/1/2022 – Já não é novidade que a Polícia guarda altos casos de suicídio – tendo percentual maior que o normal, quando comparado com a sociedade no geral
Uma ação que tem por objetivo a criação de estratégias de prevenção a desordens emocionais e melhoria da saúde mental de policiais federais do Paraná joga luz à questão das condições de trabalho e ao desgaste emocional pelo qual profissionais da área de segurança pública são submetidos no Brasil.
Em um programa-piloto, realizado entre os meses de setembro e dezembro de 2021 na Superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba, o projeto PositivaMente, desenvolvido pelo CPPMP (Centro de Psicologia Positiva e Mindfulness do Paraná), indicou que, por meio de um conjunto de intervenções baseadas em psicologia positiva e mindfulness, é possível prover o incremento da qualidade de vida e suporte à saúde mental a policiais federais.
Neste programa-piloto, desenvolvido com 13 profissionais, houve um índice de 100% de remissão de sintomas de ideação suicida, além da redução de 69% dos sintomas de depressão e 47% de redução nos sintomas de ansiedade após o conjunto de intervenção. Um resultado importante alcançado em um tempo relativamente curto. Sheila Drumond Leite, psicóloga e diretora do CPPMP, explica que o projeto contou com 3 fases, sendo o primeiro passo um levantamento do estado de saúde mental e necessidades específicas do grupo de participantes.
A segunda etapa foi um projeto de intervenção de 8 semanas, com encontros semanais, em que foi ensinado como “as virtudes mapeadas individualmente, além do constructo de novas habilidades internas (o que chamamos de soft skill) e técnicas clássicas da psicologia, poderiam servir de suporte, tanto para gerenciamento emocional, como para desenvolver skills que funcionam como amortecedores emocionais para tempos de adversidade”. Por fim, prossegue Leite, a terceira fase se deu com nova aplicação de testes, para que fossem levantados os resultados alcançados, considerados por ela “bastante satisfatórios”.
“Já não é novidade que a Polícia guarda altos casos de suicídio – tendo percentual maior que o normal, quando comparado com a sociedade no geral. Tendo em vista o cuidado não só no sentido de prevenção, mas especialmente de promoção de saúde mental, fui procurada pela Superintendência da PF do Paraná para estudar a viabilização de um projeto que não focasse somente na prevenção de problemas mentais, tampouco fosse restringido à intervenção, mas que pudesse ensinar para os servidores como promover saúde mental. Após um estudo aprofundado sobre a qualidade de saúde mental dos participantes deste projeto-piloto, desenhei um projeto sob medida para atender as necessidades específicas”, afirma Leite.
A questão da saúde mental de profissionais da área de Segurança Pública
A afirmação da diretora do CPPMP vai ao encontro com as informações disponíveis no Boletim IPPES (Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio) 2021, que apontou o número de 71 casos de suicídios consumados, 26 de tentativas de suicídio e 14 de homicídios seguidos de suicídio, além de outros seis casos sob investigação. Para os observadores dos casos ligados ao estudo, há uma tendência de queda no número de casos em relação aos anos anteriores. “Esperamos que essa diminuição seja reflexo das políticas institucionais adotadas pelas organizações de segurança pública no país. Contudo, sabemos que um aumento ou diminuição do número de casos precisa ser interpretado com cautela, dado o curto tempo da coleta dos dados e as limitações das fontes analisadas”, afirma o Boletim.
Outros dados que apontam a relevância da questão diz respeito ao número de licenças por transtornos mentais na Polícia Militar de São Paulo: de janeiro de 2020 a abril de 2021, a corporação aprovou 1.647 licenças por transtorno mental de seus oficiais – uma média de 102 licenças por mês. Com efeito, tramita no Congresso o Projeto de Lei 4.815/2019, que inclui ações voltadas para a promoção da saúde mental e prevenção ao suicídio no Programa Pró-Vida, voltado para profissionais de segurança pública.
Sheila Drumond Leite afirma que a previsão para 2022 é de que cinco novas turmas da PF recebam o programa em todo o estado do Paraná, trazendo novidades como a construção de sistemas gerenciamento emocional para “os males da contemporaneidade, como ansiedade, estresse e depressão” e a sistematização da prática de pequenas ações, com lembretes diários enviados via WhatsApp, “a fim de garantir melhor participação e envolvimento de todos”.
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